1 - Siri Azul 2 - Carrapato 3 - Escorpião Negro 4 - Caraca 5 - Caranguejeira 6 - Lagosta 7 - Viuva Negra 8 - Caranguejo 9 - Acaro

ARTRÓPODES

OS ARTRÓPODES (do grego arthros: articulado e podos: pés, patas, apêndices) SÃO ANIMAIS INVERTEBRADOS CARACTERIZADOS POR POSSUÍREM MEMBROS RÍGIDOS, ARTICULADOS, COM VÁRIOS PARES DE PERNAS, QUE VARIAM DE ACORDO COMAS CLASSES.

OS ARTRÓPODES PODEM SER CASSIFICADOS EM CINCO CLASSES PRINCIPAIS: QUELICERADOS, CRUSTÁCEOS, INSETOS, QUILÓPODES E DIPLÓPODES; POREM, FALAREMOS APENAS SOBRE A CLASSE DOS QUELICERADOS E CRUSTÁCEOS.

Da mão que captura o caranguejo à globalização que captura o Manguezal.

DA MÃO QUE CAPTURA O CARANGUEJO À GLOBALIZAÇÃO QUE CAPTURA O
MANGUEZAL
Arthur Soffiati
*
Manguezal é um ecossistema costeiro da zona intertropical do planeta que costuma
se desenvolver entre a terra e a água, entre a água doce e a água salgada, mantendo sua
integridade e coerência. Apresentando unidade ecológica, ele não pode ser considerado um
ecótono, ou seja, ambiente de transição entre outros. Ecossistema de alta produtividade
biológica, ele cumpre quatro funções ecológicas básicas. 1- Suas árvores ajudam a conter a
erosão hídrica e eólica costeira. Ele funciona como fixador de terras, aplacando a força
erosiva dos rios e dos movimentos marinhos bem como a das tempestades e dos ventos. 2-
É ambiente extremamente favorável à reprodução de incontáveis espécies de água doce e
salgada, além daquelas que vivem exclusivamente no seu interior, onde a água, via de
regra, é salobra. Abriga também animais terrestres e alados em sua fase de acasalamento e
reprodução. Em seu interior, criam-se condições apropriadas de proteção e de alimentação
para espécies animais procriarem. 3- Sua constituição torna-o excelente local protetor de
animais na fase jovem. Ao atingirem estados de desenvolvimento para habitarem seus
ambientes nativos, podem elas, então, migrarem para o mar, subirem os rios, saírem para
outros ecossistemas ou continuarem no manguezal. Há espécies vegetais e animais
exclusivos do manguezal, chamadas residentes, como as plantas dos gêneros Rhizophora,
Avicennia e Laguncularia, e como o caranguejo-uçá (Ucides cordatus). Há também as
espécies semi-residentes e visitantes. 4- É produtor e exportador de alimentos para o mar,
sobretudo pelos movimentos das marés. Esta produtividade elevada atraiu, desde o
Paleolítico, grupos humanos que, em grande medida, passaram a depender dele como fonte
de alimento. No Brasil pré-europeu, há significativos registros de assentamentos humanos
em suas bordas.
O autor estudou as relações entre as comunidades humanas e os manguezais
situados entre os rios Itapemirim (ES) e São João (RJ), incluindo trabalhos referentes a
outros manguezais da costa brasileira, com base na teoria da recursividade de Edgar

*
Professor do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional da Universidade Federal
Fluminense. Morin
1
, segunda a qual a ação produz uma reação que retroage sobre ação, conforme o
fluxograma abaixo:
Ação antrópica→reação ecossistêmica
↑____________________________↓
Assim, a destruição direta ou indireta do manguezal acarreta transformações sociais
diretas ou indiretas que novamente incidem sobre o ecossistema, num ciclo que pode ser
descendente ou ascendente.
O objeto do exame não foi nem os manguezais nem as comunidades humanas, mas
a interação entre ambos. Os documentos para tal análise concentram-se principalmente nas
mudanças anatômicas e fisiológicas dos manguezais, considerados também como agentes
de história, e nas manifestações culturais imateriais e materiais das comunidades que
interagem com ele.
Enfim, o interesse recaiu nas mudanças ecossistêmicas por que vêm passando os
manguezais situados entre os rios Itapemirim (ES) e São João (RJ), bem como a cultura das
populações que dele dependem economicamente, numa ecorregião que denomino de São
Tomé, por corresponder aos limites de expansão máxima real da Capitania de São Tomé,
doada pela Coroa portuguesa a Pero de Góis da Silveira no século XVI. O período estudado
corresponde à segunda metade do século XX. Notou-se que, a partir de uma economia
extrativista de moluscos e crustáceos praticada por métodos rústicos, como o braceamento,
por exemplo, com vistas à subsistência e às franjas de uma economia de mercado pouco
exigente, o aumento da demanda comercial produziu, primeiramente, mudanças nas
técnicas e tecnologias de captura. Para aumentar a oferta do caranguejo-uçá (Ucides
cordatus), o mais conhecido e apreciado dos manguezais brasileiros, a captura passou a ser
feita com pequenas redes colocadas na boca das tocas, e não mais com o braço introduzido
nelas, método que permitia selecionar machos adultos e libertar fêmeas ovígeras (ovadas)
com o mínimo de mutilação. As pequenas redes prendem machos e fêmeas, jovens e
adultos, aumentando o grau de mutilação e de perda. Em alguns manguezais, a pressão pelo
aumento da produção levou alguns catadores a inventarem as pequenas redes emendadas.
Uma corda de redes permite a cobertura de um significativo número de tocas e um esforço

1
MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo, 3ª ed. Lisboa: Instituto Piaget, 2001. de captura maior. Mais recentemente, comerciantes de Recife (Pe) têm estimulado
catadores dos manguezais das regiões Nordeste, Sudeste e Sul a aprimorarem os
instrumentos da captura do guaiamum (Cardisoma guanhumi) para atenderem a seus
interesses econômicos. O resultado geral é que as populações de espécies animais
habitantes de manguezais com valor econômico estão decrescendo vertiginosamente não
apenas pela captura, mas igualmente pela supressão direta e indireta do ecossistema.
O autor notou quatro mutações decorrentes deste processo conjugado e complexo. A
primeira, já apresentada, consiste na mudança das técnicas e tecnologias de captura,
ecologicamente insustentáveis. A segunda mostra que, esgotado o manguezal como fonte
de recursos econômicos, as populações que antes dependiam dele permanecem residindo no
âmbito do ecossistema, mas passam a viver de outras atividades não ligadas ao manguezal.
Assim, aos poucos, vão esquecendo as técnicas e as tecnologias de extrativismo animal que
lhes forneciam sustento. O manguezal passa a ser apenas um local de moradia. A terceira
resulta no abandono do manguezal por aqueles que dependiam dele e de seus dependentes
face ao esgotamento do ecossistema. A quarta, por fim, e mais danosa de todas, consiste na
invasão do manguezal por pessoas que vivem na linha divisória de pobreza e miséria e que
nenhuma ligação intrínseca apresentam com o ecossistema. Junto com o Poder Público e
com pessoas de alta renda, são estes invasores os grandes responsáveis pela destruição do
manguezal.
Em virtude de sua elevada produtividade biológica, os manguezais têm sido muito
procurados desde a sua constituição como ecossistema, no Período Terciário, por animais e,
recentemente, por seres humanos, em todo o mundo intertropical, onde vicejam. Não tem
sido diferente na zona costeira do Brasil, antes mesmo da invasão e da ocupação por
europeus do território que lhe serviria de base.
Diversos povos indígenas instalaram-se em suas margens – onde, não raro, são
encontrados vestígios de sambaquis e aldeamentos – para a coleta e a captura de moluscos,
crustáceos e peixes. Com a ocupação portuguesa, não apenas os nativos, mas também os
escravos e os livres pobres recorreram aos manguezais como fonte de sustento. Tudo leva a
crer que, em contato com um ecossistema não existente na Europa, os colonos portugueses
pobres e os africanos, estes trazidos como escravos, aprenderam a explorá-los com os
povos nativos, submetendo-se a seus constrangimentos, conforme lúcida sugestão de Sérgio Buarque de Holanda
2
para todos os ecossistemas nativos existentes no Brasil com os
quais os europeus entraram em contato, não obstante os africanos já conhecessem este
ecossistema em suas terras de origem.
Em fins do século 16, o corsário inglês Anthony Knivet, que viveu no Rio de
Janeiro na condição de prisioneiro de Salvador Correia de Sá, o Velho, ilustra como a
população pobre adjacente a manguezais vivia dele ou nele complementava sua dieta.
Durante três meses, a serviço do governador, ele foi obrigado a exercer trabalhos
domésticos, alimentar porcos e capturar caranguejos com as mãos, enfiando o braço nas
tocas
3
.
No Nordeste brasileiro do século 17, ocupado pelos holandeses, Guilherme Piso
empreendeu uma descrição científica dos manguezais e de suas propriedades terapêuticas,
reconhecendo o valor do saber popular. Sobre o propágulo do mangue vermelho como
lenitivo às ferroadas do peixe niqui, comenta: “É com efeito um excelente remédio,
descoberto primeiro pelos pescadores e transmitido a nós.”
4
.
A documentação do século 18 mostra mais a presença das camadas dependentes de
uma economia extrativista de subsistência junto aos manguezais. No princípio desse século,
André João Antonil retratou a oposição entre o extrativismo vegetal pelos engenhos de
açúcar e o extrativismo animal, notadamente de ostras, que constituíam importante fonte de
alimentos para os escravos
5
.
A correspondência trocada entre governadores, intendentes e câmaras municipais da
Bahia menciona pescadores e coletores, ora pendendo para o lado do grande extrativismo
vegetal, que beneficiava interesses poderosos, ora para o lado do extrativismo animal, via
de regra praticado por pessoas pobres
6
.

2
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Monções, 2
a
ed. São Paulo: Alfa-Ômega, 1976.
3
KNIVET, Anthony. Vária Fortuna e Estranhos Fados de Anthony Knivet. São Paulo: Brasiliense, 1947.
4
PISO, Guilherme. História Natural e Médica da Índia Ocidental. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do
Livro, 1957.
5
ANTONIL, André João. Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas. São Paulo:
Melhoramentos/Brasília: INL, 1976.
6
Câmara da Vila de Jaguaripe “Ofício da Câmara da Vila de Jaguaripe de 31 de julho de 1773 dirigido ao
Governo da Bahia, sobre a extração da casca de mangue”. Biblioteca Nacional, Seção de Manuscritos,
Documento sob o código I-31,29,38., 1773; e “Ofício do Senado da Câmara da Vila de Jaguaripe,
21/08/1784”. Biblioteca Nacional, Seção de Manuscritos, Documento sob o código I-31,30,55., 1784;
MENEZES, Luís Cesar de. “Carta para a Câmara de Boipeba sobre a casca de Mangue”. Ministério da
Educação e Saúde/Biblioteca Nacional. Documentos Históricos – Correspondência dos Governadores
Gerais, 1705-1711, vol. XLI. Rio de Janeiro: Tipografia Baptista de Souza, 1938; VIMIEYRO, Conde de. Nos relatos de viajantes leigos e naturalistas do século XIX, há registros acerca das
relações entre as camadas populares e os manguezais. O príncipe naturalista alemão
Maximiliano de Wied-Neuwied fala de um conflito entre o grande extrativismo vegetal e
pescadores na Bahia, opondo-se estes ao corte das plantas e apresentando queixas não
atendidas ao governo vice-real no Rio de Janeiro
7
. Outro alemão, Robert Avé-Lalement, vê
com maus olhos a ociosidade das populações costeiras da Bahia, vivendo em meio a um
mundo farto de peixes, caranguejos e cocos que não estimulava a construção de uma
civilização
8
. Pedro Soares Caldeira, num opúsculo, assume a defesa veemente dos
manguezais, denunciando que sua destruição, entre outros males, desorganizava a laboriosa
classe dos pescadores, lançando-os na miséria ou obrigando-os a procurar outros ofícios
9
.
Em 1919, Hermann Luederwaldt informava sobre uma atividade extrativista de
subsistência nos manguezais de Santos por comunidades tradicionais
10
. No I Congresso
Nacional de Pesca, promovido em 1934, Freise tentou demonstrar o significativo papel dos
manguezais para a pesca
11
. Falava-se da importância do peixe para uma atividade
extrativista. Entretanto, o pescador não falava.
A partir dos anos 70 do século XX, como que os manguezais e os “povos da lama”
são descobertos por segmentos da comunidade científica e acadêmica. Vários trabalhos são
publicados e eventos são realizados em diversos pontos do Brasil. Assim, mesmo fazendo o
coletor de molusco e crustáceo tanto quanto o tirador de casca de árvore movimentarem-se
num círculo sob domínio das elites econômicas e intelectuais, pôde-se finalmente ouvir a
sua voz e conhecer a sua visão de mundo.

“Carta que se escreveu ao Sargento-mor de Camamu Pantaleão Rodrigues de Oliveira sobre conduzir os
soldados ausentes da Praça somente, e Casca de Mangue”. Ministério da Educação e Saúde/Biblioteca
Nacional. Documentos Históricos (Cartas, Alvarás, Provisões, Patentes) 1716-1720, vol. XLIII. Rio de
Janeiro: Tipografia Baptista de Souza, 1939; e “Carta que se escreveu ao Sargento-mor Pantaleão Rodrigues
de Oliveira que o é da Vila do Camamu, sobre não consentir que se tire casca de mangue, em nome dos
interesses do Povo e contra a vontade dos curtidores”. Ministério da Educação e Saúde/Biblioteca Nacional.
Documentos Históricos (Cartas, Alvarás, Provisões, Patentes) 1716-1720, vol. XLIII. Rio de Janeiro:
Tipografia Baptista de Souza, 1939.
7
WIED-NEUWIED, Maximiliano de. Viagem ao Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1989.
8
AVÉ-LALEMENT, Robert. Viagem pelo Norte do Brasil no ano de 1859, 2 vols. Rio de Janeiro: Instituto
Nacional do Livro, 1961.
9
CALDEIRA, Pedro Soares. O Corte do Mangue. Breves Considerações sobre o Antigo e Atual Estado da
Baía do Rio de Janeiro, Conseqüências da destruição da árvore denominada Mangue, Método Bárbaro da
Pesca e Decadência desta Indústria. Rio de Janeiro: Tipografia Imp. e Const. de J. Villeneuve & C., 1884.
10
LUEDERWALDT, Hermann. “Os manguezais de Santos”. Revista do Museu Paulista tomo XI. São Paulo,
Diário Oficial, 1919.
11
FREISE, F. W. ”A importância da conservação dos mangues como viveiros de peixes”. Anais do I
Congresso Nacional da Pesca. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura/Divisão de Caça e Pesca, 1934. Atualmente, é possível identificar quatro atitudes das camadas populares que vivem
em áreas de manguezal. A primeira é representada por aqueles que continuam a valer-se de
métodos tradicionais para a captura de moluscos e crustáceos. Seus depoimentos ou
revelam orgulho pela atividade desempenhada ou mostram que o coletor considera por
demais ingentes suas condições de trabalho na vasa do manguezal. Com o emprego de
questionários e de conversas informais, dois pesquisadores procuraram reunir fragmentos
para constituir o(s) discurso(s) das comunidades tradicionais da ilha Comprida, no sistema
estuarino-lagunar de Cananéia e Iguape. A representação dos manguezais construída por
elas assemelha-se a concepções que transpiram de fontes do século 18, como se fossem
permanências de longa duração
12
.
Nas três comunidades da ilha – Pedrinhas, Juruvaúva e Ubatuba –, os entrevistados
são unânimes em valorizar o manguezal como fonte de vida e responsável pelo sustento das
famílias residentes na ilha. Todos os depoimentos revelam a prática de uma economia
ecologicamente sustentável e uma visão utilitarista dos manguezais. Fica patente a
oposição entre os nativos da ilha e os de fora, sendo atribuída a estes a responsabilidade
pela destruição do ecossistema
13
.
Por outro lado, o dito daqueles que trazem a público a dureza da vida no manguezal
contém igualmente o não-dito. Como em psicanálise, o pesquisador deve estar atento ao
alcance daquilo que se está dizendo, vez que, de modo subjacente, há uma visão que não se
pretende passar. Mais precisamente, o coletor gostaria de sair da lama, seja porque ele
padece as dificuldades de sustentar-se com um ofício repleto de sacrifícios, seja por se ver
com os olhos de quem considera o manguezal um ambiente infecto. Há quem entenda
salubre o lodo, a exemplo do coletor Nicácio Barreto Riscado ao dizer que “... esta lama se
você entrar nela com uma ferida, em três dias está curado. Ela tem vida.”
14
.
Todavia, há representantes de comunidades tradicionais que se queixam das
condições adversas encontradas no manguezal para conseguir o sustento. Em depoimento
tocante, o catador Moisés de Melo Amorim, da Associação dos Pescadores da Vila de
Ajuruteua, no Pará, mostrou que quase teve um pé amputado por infecção contraída na

12
CASTANHEIRA, Solange dos Anjos e CARRASCO, Pablo Garcia. “O homem e o manguezal: a
importância da relação antrópica de comunidades tradicionais em ilha Comprida, SP, Brasil”. ACIESP. Anais
do IV Simpósio de Ecossistemas Brasileiros vol. 1. Academia de Ciências do Estado de São Paulo, 1998.
13
Id. Ibid.
14
Folha da Manhã. “De sol a sol, uma vida no meio da lama”. Campos dos Goitacases, 02/03/1997. captura noturna de caranguejos e que um filho seu perdeu uma perna por razões similares
às suas. “Se eu pudesse, tinha deixado o manguezal há muito tempo. Se eu pudesse, nunca
que tinha botado o pé nele. E não falo só por mim, não. Ninguém vive na lama por querer.
Vive por não encontrar outro meio de vida.”
15
. Também o catador Manoel Lázaro da Silva,
da Associação de Moradores de Caratateua, Pará, reiterou as palavras de seu companheiro:
“Mangue, só pra quem precisa. Quem pode, sai dele logo, logo.”
16
. Assim também D.
Mirinha (Altamira Pereira Xavier), que assegura continuar a captura do caranguejo-uçá
(Ucides cordatus) no manguezal do rio Paraíba do Sul, Estado do Rio de Janeiro, por
métodos tradicionais, vale dizer, por braceamento, usando sapatos e luvas de pano para
entrar na lama
17
.
Tais pessoas liga(va)m-se à periferia de um pequeno mercado que exercia pouca
pressão sobre o extrativismo animal. Elas são remanescentes de um tempo em que os ciclos
de reprodução das espécies de caranguejo eram respeitados, em que os manguezais
apresentavam-se mais íntegros e mais produtivos e em que as demandas de mercado eram
menores que a capacidade de suporte do ecossistema. Com as mudanças ecossistêmicas,
econômicas e sociais, esta atitude entrou em declínio e tende a extinguir-se, ou bem com a
aposentadoria e a morte de seus representantes ou bem com a defecção deles.
A segunda postura consiste em continuar a viver dos frutos animais do manguezal,
porém extraindo dele mais que sua capacidade de suporte para atender à procura de um
mercado mais ávido, mas ainda de pequena amplitude. Para tanto, novas tecnologias têm
sido adotadas, como a pequena rede simples e a de corda, em se tratando do caranguejouçá. A prática consiste em colocar pequenas redes individuais ou emendadas na boca das
tocas para que os caranguejos se emaranhem nelas, facilitando a captura. É comum também
o emprego do enxadão. Tais apetrechos não são seletivos, capturando machos, fêmeas e
filhotes, machos jovens e fêmeas em fase de postura e provocando a mutilação dos animais
pela perda de patas. Alguns catadores ainda libertam fêmeas ovadas e jovens. A maioria,
contudo, não tem esta preocupação. Até os filhotes são usados como isca para a pesca de
peixes, notadamente o peroá (Balistes vetula). Esta atitude, ao que se presume, originada no

15
V Encontro Nacional de Educação Ambiental em Áreas de manguezal. Painel Integrado “Experiências
Comunitárias em Áreas de Manguezal”. Bragança (Pa), 1998.
16
Id. Ibid.
17
XAVIER, Altamira Pereira. “Depoimento prestado ao autor”. Gargaú (RJ): 19/02/2000. manguezal do rio Paraíba do Sul, estende-se agora a todo Sudeste, Sul e Nordeste do
Brasil
18
. Ela reflete o decréscimo progressivo de produtividade do manguezal, levando os
catadores a aumentarem o esforço de captura. O mesmo está acontecendo com o guaiamum
(Cardisoma guanhumi) em quase toda a costa do Sudeste e do Nordeste do Brasil até o
Estado de Pernambuco, pois sua capital, Recife, tornou-se um centro de consumo comercial
desta espécie, que chega inclusive a ser exportada
19
. Aqui, a mão que capturava o
caranguejo conjuga-se à mão que captura o manguezal. Recorrendo-se a Michel de
Certeau, poder-se-ia sustentar que as estratégias impostas aos manguezais e a seus
dependentes humanos, exigindo-lhes o desenvolvimento de táticas para continuar traçando
seus itinerários em seu interior, ampliaram-se de tal modo que alcançaram o âmbito
mundial
20
. Mas nem ecossistema nem seus dependentes podem suportar esta pressão por
muito tempo, já que as táticas não conseguem acompanhar as mudanças estruturais.
Soam artificiais, pois, os discursos laudatórios que pretendem heroicizar o catador
como o zelador do manguezal, não sendo ele o responsável pela perturbação e pela
degradação do ecossistema com uma atividade presumivelmente sustentável do ponto de
vista ecológico. Bem ao contrário, a coleta vem se tornando de tal forma predatória que o
discurso científico influenciou o discurso jurídico. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis passou, assim, a aplicar o instrumento do defeso
também ao caranguejo-uçá, causando bulhenta celeuma entre os catadores. Recentemente,
ele foi igualmente adotado para o guaiamum, altamente ameaçado por um comércio
associado à indústria e ao mercado mundial, seja pela exportação, seja para atendimento às
demandas de turistas. Pode-se falar numa globalização internalizada, expressa pelos turistas
estrangeiros, e externalizada por meio da exportação do produto processado para este fim.
A terceira tendência é expressa por aqueles cujos ascendentes viviam da captura por
métodos tradicionais e ecologicamente sustentáveis ou por aqueles que a abandonaram, seja
pela perda de competência do manguezal como ambiente de reprodução seja por terem se
empregado em atividades mais rentáveis. No manguezal do rio Itapemirim, Estado do

18
BOTELHO, Emanuel Roberto de Oliveira; SANTOS, Maria do Carmo Ferrão; PONTES, Antônio Clerton
de Paula. “Algumas considerações sobre o uso da redinha na captura do caranguejo-uçá, Ucides cordatus
(Linnaeus, 1763) no litoral sul de Pernambuco – Brasil”. Centro de Pesquisa e Extensão Pesqueira do
Nordeste. Boletim Técnico-Científico do CEPENE vol. 8, nº 1. Tamandaré (PE): CEPENE, 2000.
19
SOFFIATI, Arthur. “As pressões do comércio sobre a captura do guaiamum”. Anais do III Encontro
Nordestino de Educação Ambiental em Áreas de Manguezal. Maragojipe, 2001.
20
CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano vol. 1: Artes de Fazer, 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1996 Espírito Santo, a cultura pragmática acerca do manguezal restringe-se cada vez mais a uma
minoria de pessoas idosas. Os mais novos ou foram para a pesca em alto mar ou para outras
atividades. O manguezal vai se apagando em sua memória
21
. Apenas subsidiariamente há a
captura do caranguejo-uçá e do guaiamum. O primeiro, por ser exigente quanto à qualidade
do ambiente, está em franco processo de desaparecimento, visto que sua casa está sendo
demolida. O segundo, mais resistente, vem sendo retirado de sua casa. Em alguns
manguezais, o uçá já desapareceu. O guaiamum resiste mais por habitar as bordas do
ecossistema, pois não vive na lama. Contudo, também o ambiente deste sofre profundas
transformações.
Mergulhando mais fundo, nota-se que as comunidades tradicionais não mais
defendem o manguezal com o vigor de outrora, senão que também participam de sua
destruição, com aplausos a obras governamentais que promovem o “progresso” e com o
desmantelamento do ecossistema para obter algum tipo de ganho, quer construindo sua casa
nos domínios do manguezal, quer substituindo a vegetação nativa por atividades criatórias,
quer extraindo as árvores de mangue para vendê-las como lenha e madeira, quer ainda
poluindo o ambiente com resíduos sólidos e líquidos. Os habitantes dos manguezais estão
lhes virando as costas, assim como viraram para os rios, segundo mostra Gilberto Freyre
em intuitivo mas excelente estudo
22
. Ao perguntar-se nomes de plantas a pescadores do rio
Itapemirim, Estado do Espírito Santo, duas respostas podem ser ouvidas: ou a invenção de
nomes ou a remissão aos antigos
23
. É que, com a destruição dos manguezais, está se
perdendo também a cultura pragmática desenvolvida na vivência das pessoas que
dependiam deles. Estas pessoas transformaram-se em pescadores marinhos ou buscaram
outras profissões ou ainda estão desempregadas. Para elas, o manguezal é uma lembrança
que se esfuma na memória.
A quarta posição pode assim ser resumida: depois de estropiado, o manguezal corre
o risco de ser invadido por pessoas pobres de diversas procedências, sem qualquer vinculo

21
SOFFIATI, Arthur. Entre a Terra e a Água: Estudos sobre as Relações das Sociedades Humanas com os
Manguezais da Ecorregião de São Tomé entre 1950 e 2000, 2 vols. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2001 (tese de
doutorado).
22
FREYRE, Gilberto. Nordeste: Aspectos da Influência da Cana sobre a Vida e a Paisagem do Nordeste do
Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1961.
23
SOFFIATI, Arthur. Op. cit. com ele além de local de moradia, como aponta um estudo sobre a baía de Vitória
24
, Estado
do Espírito Santo, e como está ocorrendo na foz do rio Macaé, Estado do Rio de Janeiro,
cidade que passou por um processo acelerado de crescimento urbano desordenado e que
atraiu pessoas com a ilusão do emprego fácil. Não havendo como absorvê-las, permanecem
elas na esperança de encontrar oportunidade de trabalho. As áreas procuradas para moradia
são as consideradas degradadas e insalubres, o manguezal entre elas
25
.
Cabe ainda registrar processos exógenos de destruição dos manguezais.
Pressionados indiretamente por atividades econômicas rurais ou urbanas, eles deixam de ser
fonte de alimento ou de frutos a serem oferecidos nas franjas do marcado. Ao perderem esta
capacidade, são eles abandonados por coletores e pescadores. Aberto o espaço, pode
ocorrer a supressão do manguezal e sua substituição por algum ecossistema ou alguma
atividade completamente estranha a ele. Em várias lagoas costeiras do sul do Estado do
Espírito Santo, operou-se tal transformação, com o cultivo de frutas principalmente,
combalindo os manguezais e os descaracterizando enquanto ambiente produtor de
moluscos, crustáceos e peixes. Podemos exemplificar esta situação com as lagoas
Encantada, Funda, D’Antas, Lagoinha, dos Cações, das Pitas, do Mangue, de Caculucage,
dos Quartéis, da Tiririca, da Boa Vista e de Morobá.
26
Cabe observar ainda que mesmo os
manguezais produtivos, com economia e comunidades ativas, não estão livres da destruição
pela agricultura, pecuária, industrialização e urbanização.
Por escassez de fontes escritas e de trabalhos científicos, o autor valeu-se de
métodos diretos e indiretos. Diretamente, ele não se contentou com informações orais nem
mesmo de pessoas conhecedoras da região estudada. Uns procedimentos metodológicos
bastante usados foram as longas excursões solitárias a pé entre os rios Itapemirim e São
João, dividindo tão longo trecho da costa em setores. Com uma máquina fotográfica e um
gravador, empreendeu-se a procura de manguezais desconhecidos pela comunidade
científica. Cerca de 15 pequenos manguezais foram incorporados ao conhecimento da
ciência. Junto a eles, o autor entrevistou moradores locais, em busca de informações, e
registrou fotograficamente os ecossistemas estudados, buscando verificar as posturas das

24
VALE, C.C. “Homens e caranguejos: uma contribuição geográfica ao estudo dos manguezais da baía de
Vitória (ES) como fonte de alimento”. In: Anais do III Simpósio de Ecossistemas da Costa Brasileira vol. 1.
São Paulo: Academia de Ciências do Estado de São Paulo, 1993.
25
SOFFIATI, Arthur. Op. cit.
26
Id. ibid. comunidades locais e a função do manguezal em suas atividades econômicas e em suas
vidas.
Indiretamente, o autor recorreu a fontes manuscritas, datiloscritas, digitadas e
impressas, sempre que existissem, notadamente autos dos órgãos de meio ambiente,
pareceres técnicos, inquéritos instaurados pelo Ministério Público e ações judiciais. Mapas
e fotos antigas também concorreram para o trabalho.
A interpretação das informações recolhidas foi pautada pelo método qualitativo, ao
que tudo indica bem mais exigente que o quantitativo. Quanto ao método comparativo,
aplicou-o o autor na dimensão sincrônica e diacrônica, buscando cruzamentos
esclarecedores. No plano sincrônico, a comparação tendeu a acostar manguezais diferentes,
dentro ou fora do recorte territorial eleito, com o intuito de estabelecer tipologias ou de
enquadrá-los nas tipologias existentes. Eles se distribuem em três categorias: manguezais
ribeirinhos, de bacia e de franja. No plano diacrônico, foi possível comparar estados do
mesmo manguezal em épocas distintas.
A análise dos resultados mostrou, de forma inequívoca e eloqüente, que todos os
manguezais, na área estudada, sofreram redução de suas áreas e de sua biodiversidade. Há
fatores diretos e indiretos atuando separada ou conjuntamente para esta mudança, que não é
natural, e sim antrópica. Diretamente, a supressão da vegetação formadora do ecossistema e
a sobre-exploração da fauna têm concorrido de maneira desastrosa para o declínio do
manguezal. Suprime-se a vegetação para a obtenção de combustível, de mourões, de
material de construção e de tutores para a agricultura. Também para a implantação de
pastagens, de casas e de unidades urbanas.
Indiretamente, o desmatamento da vegetação adjacente ao manguezal contribui para
aumentar o assoreamento de rios e lagoas onde eles vicejam e para o aporte de insumos
químicos usados na lavoura que se instala na área desvegetada, o que pode causar
contaminação por pesticidas e/ou eutrofização por fertilizantes químicos, somados ao
esgoto doméstico ou industrial vindo das cercanias do sistema. Os barramentos à montante
e à jusante do manguezal podem privá-lo de água doce e/ou salgada. Neste caso, o aumento
de sal, a dulcificação do limnossistema, o adelgaçamento ou o espessamento da lâmina
d’água e o assoreamento podem provocar estresse salino, térmico, hídrico, árido ou
sedimentar ao manguezal. Além disso, as mudanças no regime de águas dos rios e lagoas podem criar condições para o avanço de plantas oportunistas que competem com as plantas
exclusivas de manguezal.
A sobre-exploração da fauna do manguezal, sobretudo do caranguejo-uçá e do
guaiamum para atender a uma demanda cada vez maior de uma economia de mercado,
também empobrece o manguezal. Este aspecto é quiçá o que mais tem levado o manguezal
a ser incorporado pela indústria midiática. No litoral do Ceará, por exemplo, o caranguejouçá é vendido em restaurantes sofisticados, com grande procura por parte dos
consumidores. Os cadernos de turismo dos grandes jornais freqüentemente anunciam locais
de venda do caranguejo vivo e de pratos refinados. Nem mesmo o caranguejo mole,
capturado na época da mudança de carapaça, é poupado. Uma matéria jornalística informa
que o uçá é um dos pratos mais pedidos no litoral cearense. Nas quintas-feiras à noite,
milhares de pessoas vão à praia do Futuro para saboreá-lo num verdadeiro ritual. Também
o restaurante alemão Hofbräuhaus, nesse dia da semana, promove o festival do caranguejo
e da cerveja
27
. A internet está repleta de anúncios de pequenos e grandes restaurantes
especializados em caranguejo, assim como de receitas feitas com este crustáceo.
O guaiamum não é tão apreciado como iguaria nas regiões Sudeste e Sul. Paira
sobre ele a fama de carniceiro, o que comprometeria o sabor de sua carne. No entanto, no
Nordeste, mormente, em Recife, ele é bastante valorizado. Também os cadernos de turismo
dos jornais e a internet anunciam incontáveis restaurantes, bares, quiosques e barcos
especializados em oferecer ao turista ou ao gastrônomo pratos variados feitos com o
guaiamum. Há restaurantes, em Recife, onde o freguês pode escolher vivo o guaiamum que
deseja comer. Sua carne, devidamente acondicionada, é também exportada para outros
países.
Quem freqüenta uma casa comercial para saborear o uçá, o guaiamum e até mesmo
o aratu (Goniopsis cruentata) não sabe e provavelmente não está interessado em saber
como o crustáceo que está sendo degustado é obtido. Talvez não tenha conhecimento de
que uma verdadeira guerra contra os manguezais vem sendo travada para o abastecimento
dos restaurantes. De fato, em muitos manguezais grandes e pequenos do Sudeste e do
Nordeste, comerciantes de Recife vêm recrutando um exército de catadores tradicionais e

27
Folha de S. Paulo. “Segredo para saborear o crustáceo é girar a patola; sair de casa atrás da iguaria é
compromisso social. Comer caranguejo dispensa cerimônia”. São Paulo: 20/01/2003. de pescadores para ingressarem numa caçada sem quartel ao guaiamum. Este caranguejo,
antes desprezado no Sudeste, tornou-se agora alvo de uma perseguição implacável para
alimentar o comércio do animal vivo e a indústria culinária. Para tornar a explotação
atraente, os grandes comerciantes fornecem aos catadores armadilhas mais eficientes do
que as tradicionais ratoeiras, preços mais altos por unidade e cesta básica. Até fogo tem
sido usado para expulsar o animal de sua toca. Quinzenalmente, caminhões passam para
recolher o produto da captura. Durante este tempo, os guaiamuns ficam em cercados
recebendo alimentação vegetariana para “limpar” sua carne. Antes, o transporte chegou a
ser feito por via aérea
28
.
A sobre-captura do uçá e do guaiamum levou alguns cientistas a proporem sua
inclusão na lista oficial nacional de espécies ameaçadas. No entanto, outros, preocupados
com a questão social, sustentam que nenhuma das duas corre o risco de extinção e que a
inclusão de ambas nesta categoria acarretaria desemprego.
O manguezal também entra na indústria midiática por outra porta: a das campanhas
de proteção. Nos últimos trinta anos, a comunidade científica vem mostrando que este
ecossistema, ao contrário de constituir ambiente insalubre, pútrido e fétido, apresenta
grande valor ecológico. A partir de então, os meios de comunicação começaram a veicular
campanhas em sua defesa.
Em resumo, podemos concluir que:
1- A destruição acelerada dos manguezais por fatores diretos e indiretos já inviabilizou
vários deles para o exercício de uma atividade econômica extrativista animal, sobretudo no
que se refere a moluscos, crustáceos e peixes.
2- Nos manguezais que ainda apresentam condições de sustentar o extrativismo animal para
subsistência e para o mercado, as técnicas e tecnologias tradicionais de captura estão
acossadas por novas técnicas e tecnologias que visam atender às demandas cada vez mais
exigentes do mercado. É exatamente este mercado que veicula pelos meios de comunicação

28
SOFFIATI, Arthur. “As pressões do comércio sobre a captura do guaiamum”. Anais do III Encontro
Nordestino de Educação Ambiental em Áreas de Manguezal. Maragojipe, 2001; e Tribuna Sanjoanense.
“Denúncia faz militares apreenderem mais de 1400 guaiamuns em S.J.B.”. São João da Barra (RJ):
05/12/2002. as casas comerciais especializadas em crustáceos e insere os manguezais na indústria
midiática e, por conseqüência, numa economia globalizada
29
. (16).
3- A sobre-extração de crustáceos, como os caranguejos uçá e guaiamum, está gerando
polêmicas no interior da comunidade científica, com um grupo minoritário defendendo a
inclusão das duas espécies na lista nacional das espécies ameaçadas e com outro
entendendo que a questão pode ser resolvida com campanhas educativas. Por este prisma, o
manguezal entra também na indústria midiática.
4- Contudo, não há como negar que, nos manguezais das regiões Nordeste, Sudeste e Sul,
tanto o extrativismo tradicional quanto o extrativismo atrelado a um mercado mais
dinâmico estão levando ao declínio das populações de crustáceos, seja pela destruição dos
manguezais, seja pela sobre-captura. Na região Norte, as vastas áreas de manguezal, no
conjunto, têm suportado as pressões. Porém, o que se afigura como vantagem – as grandes
extensões de manguezal – contribui, ao mesmo tempo, para uma exploração sem critérios
que já vem causando sinais de cansaço dos ecossistemas.
5- Esgotado o manguezal, os catadores podem permanecer residindo em sua periferia,
atuando em outras atividades econômicas, ou podem se transferir para outras áreas. Em
alguns pequenos manguezais estudados pelo autor, a destruição foi de tal monta que
provocou o êxodo dos antigos moradores e o abandono do local.
6- Por fim, pode ocorrer a invasão do manguezal por pessoas de média e alta renda, como
por pessoas de baixa renda, sendo este segundo caso o que sucedeu no manguezal de Macaé
(RJ).
7- Conquanto em nível menor, se comparado a outros setores da economia, os manguezais
brasileiros foram capturados pelo processo de globalização através das redes econômicas,
dos meios de comunicação e de instituições científicas.

29
SOFFIATI, Arthur. “A pressão de atividades rurais sobre os manguezais situados entre os rios Itapemirim
(ES) e São João (RJ)”. Anais do X Congress of Rural Sociology e XXXVIII Congresso Brasileiro de Economia
e Sociologia Rural. Rio de Janeiro, 2000.